terça-feira, 13 de novembro de 2007

Inauguração

Iai gurizada bacana,
como essa é a primeira postagem do Te Engano.cult vou deixar um texto bem simples mas que pode nos levar a reflexões bem profundas.
Essa é uma música cantada por um dos Novíssimos Bahianos, chamado Lenine. O site onde peguei a música estava como indisponível o nome do(a) compositor(a), portanto se alguém souber favor completar a informação.

Alpinista Social
Lenine

Apesar da idade ela nunca se cansa
De entrar nessa dança e sair no jornal
E tem sempre um plano por debaixo do pano
Ela é a alpinista social

Vira a noite no drink a pensar no over-night
No high-fi do society ela rodou
Plástica no nome pra não dar vexame
De francês só conhece belle mondeau

E jacques cousteau tanto a chegar
No sopé da montanha principal
Ela se preza, ajoelha e reza
Para ser a alpinista social

Lá vai ela, nas pegadas da moda
Na alta roda, quer passar sem pedigree
Defasada, mas é boa aluna
Topa qualquer uma nesta festa de subir

Vira a noite no drink a pensar no over-night
No high-fi do society ela rodou
Plástica no nome pra não dar vexame
De francês só conhece belle mondeau

E já que custou tanto a chegar
No sopé da montanha principal
Ela se preza, ajoelha e reza
Para ser a alpinista social

Primeiramente gostaria de deixar claro que um texto, qualquer que seja ele (música, poema, crônica, romance, ...), é uma comunicação estabelecida entre duas pessoas: autor e leitor. O vetor dessa comunicação tem duas direções. O autor, quando escreve seu texto, escreve direcionado a alguém(leitor), porém pensa em transmitir uma mensagem que se fundamenta num ponto de vista e numa realidade próprios diferentes daquele que recebe a mensagem. Sendo assim, qualquer que seja o texto, se configura em um diálogo entre a realidade exposta pelo autor e o ponto de vista de quem está lendo, ou seja, a interpreção dada a partir do conhecimento de mundo e da carga cultural que o leitor adquire através de sua experiência.
Isso se comprova quando lemos o mesmo texto mais de uma vez em longos espaços de tempo. Dificilmente faremos a mesma interpretação, visto que aumentamos nossa experiência e nosso conhecimento e atravessamos momentos/realidades diferentes em nossas vidas. Aí nesse ponto encontra-se o diálogo, porque todo o texto nos exige um compromisso, uma mudança de atitude, que por sua vez é a resposta que damos ao autor.
Bom, voltando a música...
No meu ponto de vista ela retrata um pouco da situação do mundo atual (e o Lenine coloca a realidade em suas músicas com muita competência), mais especificamente a carga que sofremos do mundo consumista. No momento em que a música coloca que há uma situação (personificada por uma personagem mulher) de alpinismo social, ela denuncia o desejo de muita gente de "subir na vida" escalando nas costas dos outros e não se importando com o preço a pagar.
A mídia nos mostra diariamente a explosão de sucesso de gente que vem do nada e torna-se celebridade. Jogadores de futebol, Big Brothers, artistas e até mesmo traficantes ganham manchetes em jornais e capas de revistas. Para mim isso cria um mundo de ilusões na cabeça de milhões de pessoas que definem como objetivo em suas vidas o "alpinismo social" passando a agir sem limites em busca desse sonho.
Esse é um problema que também é reforçado pelo individualismo que está incrustado em nossas mentes. Numa sociedade de classes como a nossa somente a união e a cooperação são capazes de levar as pessoas a uma ascensão social justa e uma transformação significativa.
O resto (jogadores de futebol, artistas, big brothers) são apenas brechas muito estreitas onde passam muito poucos; é mais ou menos como ganhar na loteria.
Como falei, esse é apenas o meu ponto de vista, a interpretação que dei ao pequeno texto que forma a letra da música.
Peço agora que opinem, critiquem, discordem, mas manifestem-se. Afinal este blog nasceu para que podéssemos debater alguns assuntos com mais seriedade e profundidade.
Sugiro que em nossas postagens utilizemos sempre algum texto para fundamentar nossas opiniões. Porém é apenas uma opinião e o objetivo do blog é a construção conjunta assim como o Te Engano.com.

Abraço a todos!

Obs.: Em breve Te Engano.premium; Te Engano.happy; Te Engano.classic e Te Engano.pipoca

2 comentários:

Felipe Marisquirena disse...

Alô Alô ilustre Colegiado, aliás melhor seria cambada bacana!

Belíssima inauguração, diga-se de passagem...

Pois então ilustríssimo gordo, apesar de ser um tímido apreciador da boa música produzida pelo excelente compositor Lenine tb já me intriguei pelo tema proposto quando, certa feita, ouvi esta mesma música que postastes, tocando, inclusive, na rádio Itapema aqui de POA (algo inacreditável para as rádios da nossa querida "Big River" tão acostumadas a Pagodes e "virtuoses" comercialistas).

Realmente é um tema controverso. Como bem expussestes hoje o "alpinismo social" e o individualismo estão completamente incrustados em nossa sociedade e temo que, dificilmente, algum dia sairão dessa posição nefasta de "objetivo de vida" para grande parcela da população.

Diversas são as facetas desse individualismo, desde o sonho pelo "tênis de marca" da propaganda da novela das 8, até tornar-se igual ao "ariano de araque" campeão de um jogo imbecil, totalmente manipulado pela Rede Bobo que consegue PARAR a "pátria de chuteiras" no momento que quer...

Porém, ao meu ver, todas essas facetas convergem para o terreno do consumismo desenfreado tão propagado por marqueteiros de plantão em mensagens subliminares (e tb em outras nem um pouco subliminares) a todo momento desde que nascemos. Isso, somado a péssima educação reinante para imensa maioria da nossa população, tão massacrada pela nossa discrepante desigualdade social, acaba por formar esse barril de pólvora como tu bem expôs...

Hoje mais vale ter a bunda grande e perfeita (o que e ótimo e fenomenal... :D) e dar o rabo pra um diretor de televisão do que lutar por uma ascenção social justa e honesta, vale mais ser uma pessoa de "plástico" em um Big Bosta do que ser uma pessoa útil na sua comunidade. Isto pode até valer como premissa de vida para essa parcela, infelizmente, desprovida de muitos princípios básicos da vida, mas para mim jamais será.

De outra banda realmente há pessoas para quem o "alpinismo social", mormente o futebolístico, é o unico caminho para dar uma condição de vida decente para sua família, estas, apesar de soar como uma discrepância ao que expus, não consigo recriminar. Mesmo sabendo de todos "aproveitadores" existentes na escala produtiva de craques da "máquina brasilis"...

Mas quem teve condições (financeiras, psicológicas, acadÊmicas, etc...) de conquistar a tal escalada social de maneira dita "decente" e acaba apelando para coisas fúteis, "celebrismos" e merdas do tipo notinhas em colunas de fofocas de jornais... me perdoem... mas só me fazem ter vontade de usar o meu famoso jargão... "São uma cambada de filhasdaputa!"

Gostei da idéia de utilizar textos em nossos comentários e aqui, deixando a vertente jurista aflorar, resoli explorar uma lacuna e vou fazer uso de uma charge FENOMENAL que, para mim, expõe bem o pensamento inicial do Gordo sobre as nossas mudanças de pensamentos nas relações com nossas experiências...

http://www.malvados.com.br/tirinha1070.gif


Grande Abraço a todos e que a chama do Blog não se apague!

Eduardo Monteiro disse...

"Esse é um problema que também é reforçado pelo individualismo que está incrustado em nossas mentes. Numa sociedade de classes como a nossa somente a união e a cooperação são capazes de levar as pessoas a uma ascensão social justa e uma transformação significativa."

"Isso, somado a péssima educação reinante para imensa maioria da nossa população, tão massacrada pela nossa discrepante desigualdade social, acaba por formar esse barril de pólvora como tu bem expôs..."

Bom,

Sinceramente não esperava tanta coisa boa assim de início. Acreditava numa crescente do blog, mas a explosão de idéias aconteceu e agora levo fé que, finalmente, poderei entrar na internet e não ler somente "Na bunda da mãe de alguém" ou "Vamos gastar $!".

E por falar em BUNDA, creio que essa, nos dias de hoje, passa por uma transformação e/ou adequação fenomenal!

Foi-se o tempo em que bunda era apenas o mole. Hoje a bunda é gostosa, fraca, feia ou forte. É propaganda, desejo, obsessão ou referência. Tanto faz. A bunda tem uma nova cara! E essa cara, se não me engano.cult, fomos nós que moldamos. Somos, atualmente, os “Pintanguy´s” da nossa cultura. E disso não há como fugir.

Falando sobre o alpinismo social, acredito que TODOS nós o buscamos. E acho, inclusive, um tanto hipócrita dizer: "Eu? Imagina! Quero uma vidinha simples." Podemos desejar o útil e descartar o supérfluo. Claro que podemos. O que há de errado então em escalar a sociedade e chegar ao topo? A maneira como chegamos!

Se mostrar a bunda, a boca, a voz ou a chuteira é o jeito, que seja feito! Mas não se usa, somente, a bunda pra cadeira, a boca pra mordida, a voz pra mentira ou a chuteira pra falta. Tenho plena noção que meu pensamento acaba sendo pessimista em relação ao lado cultural. Mas como dito no comentário anterior, nossa cultura (e falo com veemência da Cultura Brasileira), hoje se resume à Novela das 20h, ao Faustão, Big Brother e quadros filosóficos do Fantástico.

Não vamos longe! A própria criação do TE ENGANO.cult já é um grande exemplo da carência cultural em que vivemos.

A desigualdade é enorme, e creio que nós, que aqui escrevemos, não sabemos ou conhecemos sequer 90% do que ela realmente significa. E mesmo assim nos chocamos com o mundo atual. Agora, imaginem o que esses 90% devem significar.

Portanto, ascender num mundo onde o "Capitalismo é voraz!" é tarefa para poucos. "Filtra-se os fracos." Mas e os fortes? Esses já não são mais os grandes pensadores, filósofos, virtuoses, ganhadores do Nobel, entre outros.

Os valores estão sendo invertidos pela pressão e rapidez com que o mundo se move. E mais uma vez eu digo: Não moldamos só a BUNDA, fizemos pior! Moldamos a mente! Onde? Não no Pitanguy!
Só nos resta, então, publicar:

“Procura-se cirurgião mental com experiência, boa vontade, sapiência e bondade para atuar na área de desenvolvimento cultural de nossa empresa.

Favor comparecer ao endereço abaixo:

Mundo.”